quinta-feira, 20 de maio de 2010

Tahiti (Agosto/2006)

    Sempre fui fascinado pelas fotos e reportagens sobre o Tahiti. Aquelas ilhas paradisiacas faziam parte do meu sonho. Mais de 3 anos após visitá-las, enquanto escrevo essas memórias, ainda penso nelas. O quadro que ganhamos de presente de lua-de-mel no hotel international Tahiti está pendurado em nossa cozinha. Todo dia, transporto-me de volta para lá enquanto tomo meu café da manhã. A viagem aconteceu em agosto de 2006. As passagens foram compradas desde marco. A Lan Chile oferecia passagens por pouco mais de mil dólares. Achei inacreditável! Tratei logo de garantir duas passagens. Enquanto eu sonhava, navegando de site em site por aqueles resorts espetaculares, tive a chance de ver as fotos da lua-de-mel do Rafael Pol, amigo do Charlie e Valesca. Nunca tinha visto fotos tão lindas. Impressionante. "normalmente, um lugar é mais bonito nas fotos do que a vivo. No Tahiti, a foto não consegue traduzir 100% da beleza do local", dissera ele. Durante o intervalo entre a compra da passagem e a viagem em si, aceitei a proposta de me transferir para a Noruega. Obviamente, mencionei e garanti de antemão que minha ida ao paraiso aconteceria. Desci ao Rio de Janeiro uma semana antes, para o casamento de um de meus melhores amigos: Oliveira (Rodrigo) estava se casando com Marielza. Seguindo minha dica, eles viajaram pra Noruega de lua-de-mel. Pena que foi exatamente no periodo que não estaríamos lá (aqui).
Chegando no aeroporto de Santiago, funcionários da Lan-Chile ofereciam um upgrade para business class por 600 dólares o casal. Justíssimo o valor. Aceitamos a proposta. A viagem iniciava com o pé direito. A "vizinha" do banco da frente também fez o upgrade com seu filho.
Era uma designer de jóias brasileira, bastante conhecida no Tahiti. "Da Silva" era seu nome. Tornou-se nossa amiga ainda no avião. Recebemos aulas e mais aulas sobre outra jóia do Tahiti: pérola negra. O voo fez conexão na Ilha de Páscoa. Devido ao tempo restrito para férias, nao pudemos nos dar ao luxo de passar os minimos 3 dias nessa ilha. Infelizmente. Os cartões postais e os souvenirs davam uma amostra de quão belo e fascinante deve ser a ilha. Mais 6h de voo, chegamos finalmente a Papeete. Marama e sua familia nos esperavam com um colar de flores na saida do aeroporto conforme combinado. Recebi a dica para ficar em sua casa do Luis Leitão (Clicksurf). Onde rolam as melhores ondas no Tahiti (sul da ilha) não há hotéis, nem pousadas, nem resorts. Vairao fica a 70km de Papeete, e a 15km da famosa vila Teahuppo. Mesmo nome de uma das mais temidas ondas do mundo.
Não tinha ninguem hospedado na casa deles, e o maior e melhor quarto nos foi dado. O esquema incluia café e jantar. É nesta casa que ficam os brasileiros do circuito mundial de surf. Quando Bruno Santos sagrou-se campeao em Teahuppo, lá estavam Marama e familia, comemorando juntos, cada um com sua cerveja Hinano. Às 7h da manha, conforme combinado, o piloto do barco estava me esperando. Seu nome era Felipe. Gastei todo meu francês no Tahiti. É a segunda lingua local, já que o Tahiti é uma das ilhas da Polinesia Francesa (território francês). Cinco minutos de barco, chegamos à "esquerda de Vairao" (nome da onda). Maré super-vazia, sem vento. Algumas pessoas na agua, ondas de 1,5m de face. Remando em direcão ao canal, vinha um surfista com o joelho sangrando, que subiu com dificuldade no barco ao lado. Perguntei como estava o mar, e ele disse "it is OK, but very shallow'. Perguntei de onde ele vinha, e a resposta foi Hawaii. Se um havaiano saia naquele estado, sangrando...imaginei como sairia um brasileiro sem experiência em corais afiados...pulei na água e remei para o pico. Estranhamente, fui recebido com sorrisos e cumprimentos pelos locais! Atmosfera na agua que eu nunca tinha sentido! Apos embicar na minha 1a onda, consegui minha primeira "souvenir" (cicatriz) no cotovelo. O coral era mesmo afiado! Fui relaxando e aproveitando. Pegando dicas com os locais. Quando a onda fecha, você não pode se jogar e mergulhar como de costume. Tem que se jogar contra a espuma branca, e boiar leve, igual 'papel'. A ferida infecciona se nao for desinfetada. Passei um merthiolate de meu kit primeiro socorros. A dona da casa riu, entrou em casa, e voltou com um limão (mais indicado e 100% garantido). coloquei a toalha na boca, mordi, e esfreguei o limão. Ardeu como queimadura! Em algumas horas já estava formada a casca de cicatrização. Nao me incomodou mais. Estava eu batizado. Surfei mais um dia bom em Vairao sem efeitos colaterais. Fui checar Teahuppo. Obrigatorio. 15min de barco de Vairao. Estava pequeno, mais raso ainda, com alguns bodyboarders. A ondulacão entrava meio que lateralmente, de forma que, do barco, não dava para ver a parede da onda. Voltei seco do jeito que fui. O visual é tão bonito, que a viagem não foi perdida. A cor da água é indescritível. Diferentes tonalidades de azul e verde, dependendo da profundidade. Voltei para surfar em Vairao. Quando a fome e meu braco não aguentaram mais, voltei remando para o barco. Tamara apareceu com um atum de 2kg para o jantar. Metade virou sashimi, enquanto a outra parte foi feito "à la Tahiti" (crú com leite de côco, pepino e cenoura). Delicia! Nosso "despertador" vivia desajustado. Era o galo do pai do Marama. Desgracado cantava às 3h da manhã! Eu até ofereci um dinheiro para ele pelo galo, mas minha proposta não foi aceita. Marama é um policial local. Surfa também. Dei sorte de ter um feriado numa 3a-feira, e fui surfar com ele em Papara. Um praia bonita, com areia negra (vulcânica). Ondinhas boas, mas um crowd infernal. Mesmo assim, não rolava stress dentro d'água. Várias geracões surfando juntas. Cada familia com a sua tatuagem característica. Estilos tribais tahitianos. Quase fiz uma tatoo, mas fui convencido pela minha esposa Valesca a abortar a idéia. Concordei que, com 30 anos, estava um pouco velho para fazê-la. Desde aquele momento, passei a colecionar cicatrizes de corais, que me ajudam a relembrar os bons momentos e os mares alucinantes que tive o prazer de surfar. No final do dia, fui com o Marama à Teahuppo novamente. Mas não para surfar. Fui vê-lo atuar no clássico do futebol local VAIRAO x TEAHUPPO. Ele era o técnico.

O mar ficou flat no dia seguinte. Aproveitamos para conhecer Papeete. Philipe nos acompanhou. Quase 1h de ônibus. Fomos ao mercado central, sinagoga, lojas de surf e no mercado das pérolas. Notamos que as mulheres casadas, carregam uma flor na orelha direita. Tiare é o nome dessa flor tipica local. Aproveitamos para visitar a loja que a Linda da Silva vendia suas jóias de pérola. A visita ao centro das pérolas foi muito bacana. Vimos um filme sobre as fazendas de cultura de pérolas; os métodos de insercão cirurgica dos núcleos nas ostras; os mergulhadores recolocando as ostras de volta ao mar. Os núcleos (esferas de plásticos) levam cerca de 2 anos para obter aquela coloracão negra, num processo natural, todo feito pela ostra em si. Existem diversas classificacões para os tipos de pérola. As mais caras são do tipo A (perfeitamente esférica, reflexo perfeito, sem marcas na superficie). O valor aumenta gradativamente com seu diâmetro, diretamente proporcional. Contudo, as pérolas tipo A, raramente, são utilizadas em jóias! Os colares são feitos com pérolas do tipo B, onde esconde-se algumas imperfeicões entre as pérolas, lado a lado no colar, ou na parte interna que toca o pescoco. O mesmo com brincos e anéis, que tem a parte de metal encaixada onde existe a imperfeicão. Existem também as pérolas "kishis", que são formadas sem a intervencão humana. São pequenos grãos de areia que são absorvidos pela ostra, e que acabam recebendo o tratamento especial no interior da ostra, e obtendo aquela coloracão mágica. Almocei num restaurante francês e matei a saudade do couscous árabe com carneiro. A Linda veio nos encontrar. Conversamos um pouco e voltamos a Vairao. Peguei mais um dia de surf em Vairao. Meio pequeno, mas divertido. No final de tarde, fomos conhecer a mini-fazenda do Marama. Philipe nos mostrou como é feita a fecundacão da orquidea, transformando-na em baunilha. Interessante. Estávamos tão ambientandos àquele lar que não queríamos sair dali. Chegara a hora de partir para Moorea, para conhecer aqueles bungalows de cinema. Fomos com o coracão partido. Seriam 5 noites em Moorea, e depois teríamos mais uma noite na ilha do Tahiti, para depois voltarmos ao Brasil. Tentei cancelar a diária no Hotel International Tahiti para voltar para a casa do Marama, Tamara e Thuatini. Não havia hotel 5 estrelas que substituisse a atmosfera e o tratamento que recebemos por lá. Valeu Marama! Como eu já tinha pago diária antecipadamente, perderia o dinheiro. Eles nos levaram no ferry, nos despedimos, e embarcamos. A travessia leva 40 minutos. Alugamos um carro e fomos para o Hotel Hibiscus. Passamos 3 noites num beach bungalow. Visual lindissimo. A ilha tem uma circunferência de 60km. Destaque para a Baia de Cook. Chequei todos os picos de surf da ilha, mas nenhum deles estava propicio para o surf. Finalmente, chegou o dia D. O check-in no Sheraton Moorea. Nosso overwater bungalow era o 69. Com certeza, um dos melhores investimentos da minha vida. Recebemos tratamento de recém-casados, com direito à champagne, flores e doces no quarto na chegada. A dúvida era cruel: ficar no deck do seu próprio bungalow, mergulhar em frente ou ficar naquela piscina mais que convidativa? Fizemos tudo para evitar polêmica. Houve uma crise. Descobri que a bateria da nossa máquina tinha acabado, e que o carregador tinha ficado na Noruega.Não estávamos acreditando. Fomos salvo pela câmera do meu celular, que até que tinha uma resolucão aceitável. As pessoas do hotel são tão prestativas e atenciosas ao natural, que se ofendem com gorjeta! O fim de tarde era no bar de cima do restaurante, curtindo o pôr do sol, e bebendo um drink exótico para combinar com a visão do paraíso. Pelo grau de satisfacão, a estadia foi barata demais! O café da manhã podia ser servido de canoa no seu bungalow. Descobri tarde demais, vendo a chegada do mesmo no vizinho de frente. Quando tudo está excelente e as energias super positivas, até o swell foi atraido, melhorando as condicões do mar. Fui sozinho checar uma onda chamada Taapuna. Fica em frente a uma pousada de uns italianos, mas não dá para ir remando. Cheguei 5min antes do barco deles partir para o pico! O trajeto do cais até o canal de Taapuna foi extasiante. Não sabia que existia tantas versões das cores azul e verde. O mar estava com 2m de face. O piloto perguntou se meu estrepe da prancha era forte o suficiente, porque ele não iria me buscar lá fora, nem muito menos pegar minha prancha caso ela fosse parar na bancada de corais. Falei que sim, mas aquilo me deixou meio neurótico. A correnteza estava forte, puxando para dentro do pico. No mar, apenas um italiano e eu. Cada série que subia no horizonte e que quebrava na minha cabeca, fazia que eu apertasse a borda da minha prancha com toda minha forca, pois eu não podia me separar da minha prancha, e arriscar de perdê-la. Peguei poucas, mas boas ondas. Estavam fechando na maioria, e a correnteza acabou com minha forca. Às 10:30h chegou o barqueiro, conforme combinado, e às 11h estava eu de volta ao Sheraton. Valesca já tinha providenciado o check-out. Nem deu tempo de dizer tchau para meu quarto preferido, mas a felicidade por ter surfado Taapuna havia compensado.  Abaixo, um video-aperitivo.




Pegamos o ferry de volta ao Tahiti. A volta balancou mais, devido às ondas. A Linda nos pegou no ferry e nos levou ao Hotel International, que ficava em Papeete. Fomos convidados a jantar em sua casa! Antes disso, alugamos um carro e fui tentar surfar. Rodei quase a ilha toda, passando pelos beach breaks do norte da ilha, mas acabei surfando em Papara novamente. Estava bom demais. 1,5 de face. Bastante gente na água. Mas, entrei tão feliz, que atraia tudo quanto é onda. Peguei várias, e tive a sorte de Valesca ter filmado todas elas. Que dia! Veja video com algumas das ondas abaixo:






O jantar na casa da Linda foi legal. Descobrimos que uma amiga da Valesca chamada Beth, trabalhara como vendedora na joalheria do ex-marido da Linda! Coincidência incrivel. Beth mudou-se do Tahiti para as Ilhas Reunião, pois seu marido trabalha com a cultura da baunilha. Voltando ao assunto, a Linda nos deu aula sobre pérolas e muito material informativo (livros, catálogos e DVD). Compramos algumas pecas dela. Meu cartão do banco não estava funcionando no Tahiti, e ela aceitou receber o resto do pagamento quando eu chegasse na Noruega. Depositou uma confianca na gente incrivel! Coisa rara hoje em dia. Poderíamos ter virado representante da DA SILVA na Noruega. Trouxemos até posters e catálogo da colecão e do trabalho dela. Acabamos desanimando por falta de tempo. Infelizmente. Talvez tivesse voltado àquele paraíso!

Algumas fotos:

4 comentários:

  1. Excelente ! Começou bem, pelo começo... bom local para curar a ressaca do casamento daquela criatura do Rio. Vida de marajá, com mérito é para tirar onda mesmo. Agora, que cabeleira, heim !
    Abs
    Oliver

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  2. Valeu pela força, Digo!

    A cabeleira "esvoaçante" se fêz presente na viagem. Tinha até que usar boné na lancha, para que não caíssem nos meus olhos...hahaha! Continuo de boné...só que agora é para não queimar a careca! Rsrsrsrs.

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  3. Q beleza .. parabéns !!

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