domingo, 9 de janeiro de 2011

Escócia: Whisky & Castles

        Motivos para visitar a Escócia não faltavam. Sempre fui fascinado pelo filme Coração Valente (Braveheart ), além de fã de um bom scotch whisky e da Lenda do monstro do Lago Ness.
Consegui convencer meu primo Fernando, com a esposa Juliana e sua filha Carol a ir conosco nessa trip
Iniciamos pela capital- À propósito, sabes qual é? Toda em estilo medieval, construções de pedra, com um mega castelo em seu centro, bem no alto. Se você, assim como eu, achava que a capital da Escócia é Glasgow, engana-se. Chama-se Edimburgo! Rsrsrs. Tive que confessar. Vivendo e aprendendo...
Chegamos no dia 31 de dezembro de 2010, direto para a festa de reveillon. Faltando 20 min para o encerramento da venda dos tickets de entrada, meu primo conseguiu comprar as entradas. Eram quase 23h.
Educadamente, a policial escocesa nos aconselhou a desistir da festa, preocupada com nossas crianças no meio de uma multidão. Mal sabia ela, que éramos treinados no Rio de Janeiro!
Amarelei para levar minha champagne, com medo de tê-la confiscada. Meu primo, não, sorte. Foi dificil comprar bebida. Whisky, então, impossível. Conseguimos algumas cervejas, um quentão. Rolava um DJ e diversos shows espalhados. 
Estávamos no pé do Castelo e fomos surpreendidos por uma bela queima de fogos à meia-noite. Temperatura por volta de zero grau. Eu carregava, inutilmente, um tripé para minha camera fotográfica, no intuito de registrar o momento. Bebemos, gritamos e nos divertimos até as 2h. Fizemos um pit-stop no simpático bar do hotel, onde bebemos o primeiro single malt da viagem: Glenkinchie. 

No dia seguinte, fizemos um sightseeing num daqueles ônibus de dois andares, e acabamos num parque de diversOES. Rebecca pôde mostrar toda sua radicalidade. Pessoas paravam para admirar aquele pequena criança, amarrada com elásticos na cintura, pulando por cerca de 4m de altura! Foi incrível! Gostou também de ficar dentro de uma bolha, em cima d'água, onde podia dar cambalhota, pular, jogar-se, etc. Comemos um fast-food escocês, numa das barraquinhas do parquinho, com destaque para o hamburger com cebola e cheddar. Muito bom também o hot-dog alemão! Rebecca ficara confusa ao ver um homem vestido de saia. Até então, saia era coisa de menina! Rsrsrs. De lojinha em lojinha, acabamos nos deparando com whiskies, claro. Após meia-hora de discussão e dúvida sobre qual dos diferentes tipos comprar, decidimos comprar dois que faziam parte de um kit de cinco: Glen Moray & Loch Lomond.

À noite, voltamos ao bar do hotel. Começou então o ritual de toda noite que se seguiu. Voltei do bar pra nossa mesa com três whiskies diferentes, todos single malts: The Macallan (THE BEST), Glenfiddich (único que eu havia bebido anteriormente), Talisker. Mesmo ignorantes na arte de degustar os single malts, pudemos perceber o aroma e paladar smoky/peaty do Talisker. No primeiro momento, não nos agradou. Enquanto os dois primeiros são da região de SPEYSIDE, o Talisker é de ISLAY, região tipica dos whiskies com aroma defumado (smoky). Vale ressaltar que o Macallan, juntamente com o Highland Park, são a base do "blended" mais vendido na Escócia: The Famous Grouse.
O figura
Quase chegando ao castelo, encontramos um "figura", vestido de William Wallace (personagem vivido por Mel Gibson no filme acima citado, e lider do movimento que resultou na independência da Escócia). Tiramos foto com o simpático escocês, cada um com sua espada, gritando "FOR FREEDOM"!!! Outra alternativa popular de grito era: " For FACEBOOK"!!! Rsrsrs. O cara era fã do sepultura, e nos confessou que a unica palavra que ele conhecia em português era: PORRA! Hahaha.


O castelo de Edinburgh é imponente! A vista da cidade, suas galerias, masmorras, prisões, acomodações, museu da guerra e de armas valeram a visita.  Houve uma parada para tomar um café. Não perdi tempo e ataquei um picadinho de carne, que era servido dentro de massa folheada. A sobremesa foi outro whiskie: Tullibardine.


Chegara a hora da Scotch whisky experience! As meninas foram fazer compras, e os marmanjos foram ter aula sobre a água da vida (the water of life: whisky).
O "silver tour" dava direito a degustar um tipo de whisky somente. Não hesitei e comprei o gold tour, que dá direito à degustação de adicionais quatro tipos no final.
O tour inicia com um passeio sentado num carrinho em forma de barril, explicando o processo de fabricação. Arrependemo-nos de ter escolhido o português! Seu JOAQUIM, ou talvez MANOEL, nosso locutor da gravação, não sabia nada de whisky. O sotaque luso era dificil de compreender, gajo! Um grupo foi reunido numa sala, onde assistimos um video, explicado por uma escocêsa. Descobrimos que a Escócia, "whiskamente" falando, divide-se em quatro principais regiões: Lowland, highland, Speyside, Islay. Abre parêntesis. Alguns livros adicionam um quinta: Islands. Fecha parêntesis. Recebemos uma roda de papel, com cada região marcada com uma determinada cor. O aroma tipico da região era liberado ao esfregármos o papel. Muito interessante. Na mesa, havia quatro circulos, um com cada cor, e um circulo central com todas as cores. Malandro que sou, coloquei meu copo nesse último, achando que beberíamos todos, por estarmos no "gold tour". Meu primo ao ver tamanha "decisão", fez o mesmo. Acabamos sendo servido uma única vez, e ao invés de single malt, recebemos um blended: BELL´S. Pelo menos era o Bell´s escocês e original, e não o engarrafado no Brasil. Rsrs. Ficamos surpresos ao conhecer a maior coleção de whisky do mundo (World Guiness). Contando com 3400 garrafas de diferentes tipos e marcas diferentes. A surpresa maior foi descobrir que essa coleção pertencia a um brasileiro: CLAIVE VIDIZ. Fundador da Sociedade brasileira dos colecionadores de whisky. Vendeu tudo para os escoceses, alegando que "o bom filho à casa torna". Valores não divulgados. A coleção acabava num bar, onde recebemos um conjunto com 4 copos, mais um de água, e um folheto descrevendo os tipos, aromas, paladar de cada whisky: Glenkinchie (lowland), Glengoyne (highland), The Glenlivet (Speyside), Caol (Islay). 

Brasileiros e habituados ao whisky on the rocks, foi fácil apreciar o lowland, mais suave e low finish (tempo que a bebida ainda fica impregando sua boca após engolida). O paladar diferenciado dos ISLAY começava a agradar. Encarnamos um "degustador" e resolvemos apreciar os diferentes tipos, sem nos prender em preferências. Gelo não é servido. A boa maneira escocesa permite adicionar algumas gotas de água. Ato que libera ainda mais o "bouquet" do whisky. O copo correto não é o copo que estávamos acostumados a beber whisky. Era um mistura de copo de conhaque com vinho. Especialmente confeccionado para permitir dar aquela mexida na bebida, usando em seguida o olfato, visualizar a sua cor e bebê-la finalmente. Colocar gelo não é errado, contudo. A critica é que perde-se a noção de quanto de água está sendo acrescentada. Vale lembrar que a água faz parte da composição do whisky, além de ser adicionada no final da maturação, feita em barris. Para ser considerado um SCOTCH, o whisky tem que maturar, por lei, no minimo 3 anos! Na saída, estratégicamente posicionada, existe uma loja com todos os single malts existentes no mercado, além dos famosos blended. Aprendemos que o whisky pode ser feito de diversos grãos: cevada, cevada maltada, arroz, milho, etc. O whisky mais nobre é feito apenas de malte. Se feito em apenas uma destlaria, leva o nome de single malt. Já o tipo blended (Johnny Walker, Chivas, JB, Passport, Bell´s, etc) é feito da mistura do whisky malte com algum outro whisky tipo grão. A maioria dos blended não revela quais whiskies fazem parte da mistura, logicamente. A arte da mistura é feita pelo master blender, que é o responsável pelo aroma e paladar constantes e perfeitos do produto final. Aliás, o whisky Johnny Walker foi o primeiro a ser distribuido em toda parte do mundo, ainda no século XIX, com representantes espalhados mundo afora. 90% do whisky consumido no mundo é do tipo blended. Depois de tanto whisky, um rodizio chinês veio saciar a fome, que àquela altura estava negra. Meu primo então que o diga, já que só havia bebido um café antes dos whiskies...à noite, como de costume, teve mais whisky: Oban, Cragganmore e lagavulin (Islay).
Robert de Bruce e o monumento
ao Wallace (ao fundo)
Ao amanhecer, pegamos um trem e fomos para em Stirling. Foi lá que os escoceses derrotaram e expulsaram os ingleses de suas terras. Na verdade, se Robert de Bruce e William Wallace retornassem hoje ao castelo, não o reconheceriam. Eles mesmo se encarregaram de destruir o castelo, que na época era dominado pelos ingleses, e o utilizam contra os próprios locais. Somente 60 anos depois, que a reconstrução do castelo teve inicio. Castelo por castelo, esse nem chega aos pés do de Edimburgo. Conseguimos avistar o monumento ao William Wallace de longe, e tiramos foto na estátua do Robert de Bruce (o Judas escocês, que traiu o próprio Wallace). Dentro do castelo, garanti mais um malte: Glenmorangie.

Acertadamente, decidimos conhecer uma destilaria de whisky. Fomos de trem a Glasgow,  e pegamos um taxi de meia-hora para Glengoyne. A destlilaria leva o nome do lugar. Nossas guerreiras e pacientes mulheres e filhas nos acompanharam fielmente. Novamente, optamos pelo tour completo. Dessa vez, garantimos a degustação do Glengoyne de 10, 12, 17 e 21 anos. A "idade" do Scotch whisky, por lei, é a idade do whisky mais jovem que faz parte do blended/mistura. Finalmente, descobri o que significa o prefixo "glen", presente em diversos whiskies: Glenfiddich, GlenMoray, Glenlivet, Glenmorangie, Glengoyne...como Goyne significa cisne na linguagem local, Glengoyne é o vale do cisne. 
Iniciamos direto no "vamos ver". Uma taça de 10 anos e outra de doze. Além de mais velho, o segundo possuía um grau alcoólico elevadíssimo: 58%. Enquanto bebíamos, um video ilustrativo rolava. Dizem que o whisky adquire, durante a maturação, as características do local. É fascinante como as quase 100 destilarias, espalhadas por toda Escócia, conseguem um produto único, utilizando-se dos mesmos ingredientes! A dureza e características da água são peculiares de cada região, mas, hoje em dia, o malte é adquirido de fábricas, ao invés da cevada ser  hidratada e secada manualmente. A cevada ao ser hidrata, incha e libera açúcar (maltose). Depois de dois dias, inicia-se a secagem, para evitar que a cevada continue expandindo-se. Junta-se água ao malte, em seguida adiciona-se fermento. O alcool é o produto da fermentação, juntamente com o CO2. As destilarias pequenas liberam o CO2 para o ar, porém as grandes destilarias, vendem o gás para fábricas de refrigerantes e água. O Escocês aproveitou a "deixa" para fazer uma piadinha, dizendo que a coca-cola escocesa é a melhor do mundo, já que é feita com CO2 de whisky. Diga-se de passagem, a maior destilaria de blended da Escócia alimenta toda a fábrica da coca-cola do pais. Segundo "o especialista", utilizam qualquer barril pelo tempo minimo de três ano, e adicionam caramelo para colorí-lo. Noutro comentário sarcástico, sugeriu que, se um dia fôssemos misturar coca-cola, suco, ou outra bebida qualquer, que usássemos então um whisky blended de larga produção. Voltando à produção, depois que o primeiro alcool é formado, ele está com aproximadamente 8% de teor alcoólico, e a mistura lembra uma cerveja. A cevada em forma de borra é filtrada e separada. Posteriormente vendida para agricultores e pecuaristas locais. O restante do liquido sofre então a primeira destilação, onde vapor aquece a mistura, separando o alcool em forma de vapor da água (que sobe), da água que permanece no fundo. O alcool vapor é resfriado por serpentinas e separado, já com um teor alcoólico de 25%. Repete-se o processo, novamente, fazendo com que o alcool atinja 75% de teor. O liquido ainda é incolor. Adiciona-se água, reduzindo seu teor para cerca de 63% (número mágico), para então ser reservado em barris de madeira. Como o whisky obtém o gosto e cor do barril, a experiência mostrou que não se pode utilizar barris virgens. Os melhores resultados são obtidos com barris usados nos EUA para whisky Bourbon, ou da Espanha usados por cherry. Quanto mais novo o barril, mais escuro torna-se o whisky. Usa-se o barril por uns três períodos no máximo, para então ser repassado para defumar peixes e outros alimentos. A maturação ocorre dentro dos barris e pode durar até mais de 25 anos. Cada ano que passa, o teor alcoólico diminui, devido à evaporação de parte do alcool ("the angels part"). Toda destilaria produz seu próprio malte, e também abastece as marcas de whisky blended, que chegam a levar 40 tipos diferentes de maltes em sua mistura. Apenas 14 destilarias permanecem nas mãos de Escoceses, e a GLENGOYNE é uma delas.  
Voltamos a Glasgow. Foi a hora das meninas visitarem as destilarias delas: Gap, H&M, Zara, etc. Nem tínhamos o direito de reclamar. À noite, finalizamos a champagne que estava morando no frigobar do meu quarto, assim como a última dose de scotch: Deanston
Não houve uma dor de cabeça sequer, nem ressaca. Acredite se quiser.
Trouxe na mala um conjunto de copos de cristal Glencairn, uma garrafa do whisky que mais gostei (The Macallan), e outra garrafa de Glengoyne, para lembrar da destilaria.
Estava louco para chegar em casa e provar meus exemplares de whisky: green label (vatted malt / blend of malts), gold label, Chivas 18, Royal Salute (21).
Estão cada vez melhores, e eu, cada dia, aprendendo um pouco mais.
Acho que já posso me candidatar a um blue label...
Um brinde a 2011! 
Saúde!

PS: Valeu primo! Vou sentir falta da companhia/parceria do whisky!

A dupla do whisky presente na The Scotch Whisky Experience (Edinburgh).

Na destilaria Glengoyne: da esquerda pra direita: Fernando; o MESTRE e Gustavo (ainda segurando a dose do whisky 21 anos) 


10 comentários:

  1. Gustavo,
    Dizem que casamento, só serve para tolher o homem e escravizar a mulher. Vocês dão mostras clara que não é nada disso, e que o importante é viver, e, não ter vergonha de ser feliz. Conforme induz a música do grande Gonzaguinha.
    Vão, o mundo os espera e sejam eternamente felizes.
    Com um caloroso abraço.
    Oliveira

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  2. From: Eduardo - Sigma Comercial Eletrica Sent:

    aiiiiii simmm heimmm

    bem loko Gustavao,,, so hj vi todas as fotos ,,, da hora

    abracos brotherr

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  3. Gostei do seu relato.
    Alem do whisky que você me serviu na sua casa eu gosto muito do OBAN que compro quando tem no Free Shopping.
    Infelizmente só consigo beber On The Rocks.
    Beijão na Rebeca
    Luiz Paulo Vasconcellos

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  4. Aqui no estaleiro eu não consigo acessar o blog, vi em casa. Seu relato me fez abrir um Balla 21 que eu tinha lá em casa, foi o único jeito de diminuir a água na boca.
    Eu não posso ir num lugar desses, corro um sério risco de me tornar um imigrante etílico.
    Também só bebo puro, só que agora eu associo um Cohiba ou um Monte Cristo que é pra ajudar o camarada Fidel.
    Abc,
    Pinheiro

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  5. QUE BELEZA. SDS

    Luiz Felipe Lobo

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  6. vimos as fotos.lindas.
    bjs
    mamãe.

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  7. Booooaaaaa GP!!
    Soh faltou jogar um golfezinho por la einh!!
    Escócia ta na minha lista desse ano!!
    Sucesso em 2011!!!
    Bração
    Rodrigo Ferraz

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  8. Muito maneiro ...
    Sylvio Imbassahy

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  9. Esse meu primo faz coisa!!!l "o cara é foda" , que trabalho excelente! que documentário maneiro!!! não é a toa que é... e sempre foi, o meu PEDREIRA preferido...

    Fernando Cesar Pedreira Romaguera

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  10. 1ª Linha ... parabéns pela trip ...!!
    Sensacional ! beijossss Thi e Marcelle

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